Cristianismo não é Evangelho.

Cristianismo não é Evangelho.

 


Por Paulo Filoteus
 

O que é cristianismo? 

Na história da Igreja Primitiva, houve uma expansão do Evangelho para os três continentes da época, partindo de Jerusalém, África, Ásia e Oceania. Em cada lugar a Igreja crescia e um bispo nomeado, em cada lugar, era aquele que coordenava. O evangelho pregado era a vida do Cristo, não só o que Ele demonstrava em ações e exemplos, sem inovações nem formulações teológicas. 
Neste tempo, o contexto histórico era de dominações e disputas de impérios e poder. O aparecimento do Messias criou especulações de que este visava disputar o poder, casusação da qual o Cristo respondeu que o seu reino não era deste mundo (Jo18.36). O Evangelho do Cristo não tinha e, não tem, um caráter de dominação, pois como acontecia entre os sacerdotes, a hierarquia sempre devia ser respeitada, como se defendia no modelo dos impérios e reis. Jesus disse que sua mensagem não tinha nenhuma prerrogativa de superioridade, pois o Cristo certa feita disse que entre os seus discípulos não haveria superioridade mas, aquele que quisesse ser o maior que fosse servo de todos. (MT. 20,26). 
O batismo, a celebração da ceia, não era celebrado por quem tivesse poder apostólico, porém cada um podia batizar e celebrar a ceia sem burocracias eclesiásticas e quem coordenava, era bispo de todos.
 

Constantino 

Quem era Constantino? Segundo seus atos e feitos públicos, passou a ser considerado um santo pelos cristãos, uma vez que em 313, no Edito de Milão, ordenadou por lei que a religião cristã fosse livre e respeitada. 
Segundo Julíano, um apóstata, era um diabo cheio de orgulho e de ódio.
 Reconhecemos a astúcia e ousadia de um homem que conseguiu ser o senhor de todo um império Romano do Ocidente, do Oriente e da África do Norte, por mais de 30 anos, uma vez que sua crueldade visava apenas os interesses pessoais.
Mandou matar seu filho Crispo, pela simples acusação da madrasta, sufocar no banho sua mulher Fausta, matar Liciniano, que era inocente dos crimes de Licínio, seu pai. Estes e muitos outros crimes de aparências políticas, ele os achava necessários para "proteger-se dentro de casa", como dizia...
 
Contam que certo dia, quando estava entrando no templo de Júpiter, para oferecer sacrifícios e purificar-se, o grande sacerdote barrou-lhe o caminho dizendo-lhe que os deuses não o perdoavam e, foi então que alguém lhe fez observar que o batismo cristão perdoa todos os crimes cometidos anteriormente. Anteriormente? Sim, anteriormente!
 
Em Constantino, os crentes passam ser um instrumento de interesses políticos para seu império. Constantino nunca se mostrou convertido ao Evangelho, porém ao morrer, pediu o batismo, ao mesmo tempo em que ofereceu um sacrifício a outro deus. 
Na véspera de uma batalha, Constantino teve uma visão a qual dizia, “com este sinal vencerás”, a qual aclamou a todos como tendo uma visão de Deus e, a visão foi cumprida. Constantino venceu e o povo passou a respeitá-lo como um homem iluminado por Deus, santo. Constantino via esse movimento de Cristão um povo sem amparo político, sem direitos e de alguém que pudesse liderá-los. Constantino dar a este povo um apoio que antes não tinham: direitos políticos. Nomeou bispos, líderes por regiões e para evitar que doutrinas estranhas do arianismo e das filosofias aristotélicas, resolveu formular as bases da teologia, a saber: as Escrituras, a fé, a graça e, por fim, Jesus. Estes eram os elementos para se conhecer a Deus dado por Constantino. É claro que o farisaísmo já tinha adentrado no culto Cristão, pois o culto o lugar sagrado, antes cultuado, o monte, passou ser o púlpito e, passando pela idade média até os dias de hoje. 
O púlpito das igrejas passou ser o lugar das verdades religiosas, onde a mentira pode ser tomada como verdade pelo fato dela vir do púlpito. Pronto, Constantino na liderança da igreja cria um mundo de leis e dogmas Cristã. Manda construir Constantinopla, a cidade dos Cristãos, o lugar da fé, imitando assim, Jerusalém. O cristianismo que tanto se defende como sendo a verdade inalterada se confunde com o Evangelho do Cristo. 
Por que então, cristianismo é diferente do Evangelho do Cristo? O que há, na verdade, é uma organização religiosa forjada pelo interesse político que dava privilégios a quem aderisse, do tipo, impostos generosos, privilégios sacerdotais, cargos, terras, campos etc. Imagine o mesmo modelo na atualidade, com a mesma politicagem? Por isso, admitir que seria uma benção um país com líderes evangélico, pode ser um erro fatal a toda liberdade religiosa, pois se percebe que o evangelho hoje, é uma religião de interesses políticos, com bases em dogmas e teologias criado por mestre e doutores do poder na qual o Cristo foi esquecido, embora fale em seu nome. 
A doutrina de Cristo não são formulações de dogmas e nem sistematização de conceitos teológicos. Não lemos nas Escrituras o Cristo dizendo: defendei os dogmas, ensinai a transubstanciação, defendei a trindade, estabecei e dominai na terra etc.
Na época de Cristo, falar com autoridade de Deus era para quem freqüentou suas escolas, pois diziam: "Como sabe este letras, não as tendo aprendido?"(Jo 7.15). Dentro das organizações religiosas, o servi a Deus se resume em frequentar a igreja, cultuar, ofertar, dízimar, orar, rezar, cantar etc. As lutas internas visão sempre a herarquia, o status para enfim agregar um certo pode de graça recebida, sempre dentro de um serviçal e submissão a igreja. Não é por acaso que esse cristianismo sofre tantos ataques do ateísmo que denuncia o falso evangelho de um etnocentrismo.
 

Etnocentrismo

O evangelho do Cristo não é etnocêntrico, pois a promessa feita a Abraão, “Tu serás uma benção para todas as famílias da terra” e os profetas Isaías, Amós e Jerêmias, afirmavam que o “Servo do Senhor seria luz para todas as nações”, inclusive para os povos “para além dos mares”. Jesus disse que não havia sido enviado, historicamente, senão para “as ovelhas perdidas da casa de Israel”.    
Diz o pr Caio Fábio: 
“o episódio da siro-fenícia bem expressa este “momento” de Jesus. Todavia, aquele limite era apenas pedagógico. Isto porque as grandes afirmações de fé que Jesus fez, promoveram pessoas de fora da comunidade de Israel. O Centurião romano que o diga: “Nunca vi em Israel um fé como esta!”—disse Jesus acerca daquele oficial. O livro de Atos termina o etnicismo desde o capítulo 8. E tal realidade se configura definitivamente em Atos 11, após a conversão de Paulo e o início de seu ministério. Em Paulo a mensagem se tornou completamente universal! A preparação fundamental para que esse caminho se pavimentasse foi a visão de Pedro, em Atos 10, em sua preparação espiritual para aceitar os gentios, no caso, os da casa de Cornélio. “Ao que Deus santificou não consideres comum ou imundo”—referindo-se a homens, não a bichos. “Em Cristo não há sexismo (homem e mulher), nem segregação racial (escravo ou liberto), e nem etnicismo (bárbaro, cita, judeu, grego, etc...) pois, todos, são um em Cristo”—conforme o ideal apontado por Paulo. A teologia de Paulo—se é que se pode chamar o que Paulo ensinou de “teologia”—abriu, para sempre, os horizontes dos aplicativos do evangelho, e trouxe a mensagem como conteúdo para dentro de qualquer contexto cultural. “Faço-me de tudo para com todos...para salvar alguns”. A leitura das cartas de Paulo e a pratica católica (universal) de sua pregação—evangelizando a toda criatura debaixo do céu—não dá margem a nenhuma possibilidade de etnicismo cristão.
 

As Doutrinas 

As igrejas evangélicas dizem possuir a real doutrina do Evangelho mas, descaracterizam quando não conhecem o conceito de doutrina. Pr. Caio diz “Para Jesus, nos evangelhos, doutrina era a pratica simples dos ensinos Dele; conforme se vê em João 7:14-17. No mais se fala de doutrina nos evangelhos como um termo que procedeu da boca do povo, impressionado com os feitos de Jesus, acompanhado das palavras simples que Ele dizia. Em Paulo doutrina é sinônimo de ensino do Evangelho conforme os Apóstolos.”
Antes do encontro, que trataram questões doutrinárias, chamado de credo de Nicéia, sobre a unção de Constantino, que portanto, “doutrina” não era um pedaço sistematizado da verdade de Deus, mas a própria e integral revelação, conforme Jesus, simplesmente como Evangelho.
Assim sendo, não devemos nos preocupar com onde e qual é a verdadeira pregação do evangelho, nem nos preocupar com a igreja que melhor as define. O Cristianismo, nada mais é que “uma vestimenta histórica” que não nos serve de alimentos, “Vida então é que nunca foi!...”. 
Não é um lugar exclusivo dos de Deus e, por assim dizer, “a falência do Cristianismo é falência de algo falível e feito para acabar mesmo;”. 
Faço minha as palavras de Caio Fábio na qual nossa vida é mais do que o que eu comemos e meu ser é mais do que o alimento da cultura cristã na qual muitos nasceram. Assim, quanto menos saleiro e mais sal na Terra, quanto menos vestes e mais Corpo, quanto menos receitas de alimentos, mais Vida simples, mais poder haverá no cumprimento da missão dos discípulos conscientes de seu lugar e missão existencial neste mundo. (Caio).
 
O Evangelho não é conjunto de doutrinas e nem o que leva nome de cristianismo. Ainda que Cristianismo alegue derivação do Cristo, não é este o Evangelho do Cristo.
Não devemos apelar à razão nem a agudez das teologias nem muito menos nos apegar as tradições tidas como fundamentos. Apelasse a alma de quem ama. A alma de quem clama pela Vida do filho de Deus e se entrega a Ele de todo o coração, vivendo o amor da cruz. 
 

Jesus não era cristão?

 
Dizem muitos “ateus” e muitos outros, repugnadores do cristianismo, que Jesus estabeleceu uma seita sanguinária que fez correr mais sangue do que as guerras mais cruéis do povo contra povo já derramaram um dia. Realmente não parece verdadeiro esta sentença? Como diz Voltaire: “Mas basta considerar quanta gente de bem os sacerdotes ultrajados já fizeram morrer“, o que a história atual não nos deixa enganado quanto a este fato. 
Mas a resposta é: Não!
Vamos ver uma colocaão interessante de um dos mais críticos do cristianismo, a ponto de ser considerado ateu.
“O cristianismo, está mais distante de Jesus do que de Zoroastro ou de Brama. Jesus tornou-se o pretexto de nossas doutrinas fantásticas, de nossas perseguições, de nossos crimes religiosos; mas não foi seu autor. Vários viram Jesus como um médico judeu, que um charlatões estrangeiros transformaram em chefe de sua farmácia. Esses charlatões quiseram fazer crer que haviam obtido dele seus venenos. Apraz-me que Jesus não era cristão, que, ao contrário, ele teria condenado com horror nosso cristianismo, tal como Roma o estabeleceu; cristianismo absurdo e bárbaro, que avilta a alma e faz morrer o corpo de fome, enquanto espera que, um dia, ambos sejam queimados juntos durante a eternidade; cristianismo que, para enriquecer monges e gente que não vale mais que aqueles, reduziu os povos à mendicância e, por conseguinte, à necessidade do crime; cristianismo que expõe os reis ao primeiro devoto assassino que os quiser imolar à santa Igreja; cristianismo que despojou a Europa, para acumular na casa de nossa senhora de Loreto, vinda de Jerusalém à Marca de Ancona, pelo ares, mais tesouros do que seria necessário para nutrir os pobres de vinte reinos; cristianismo, enfim, que podia consolar a terra e que a cobriu de sangue, carnificina e incontáveis desgraças de toda espécie.”
(VOLTAIRE. Deus e os homens. Marfins Fontes/ São Paulo, 1995, p122)
 
Alguns talvez tentem defender-se alegando que sua fé é diferente daquela, mas não pode negar que seus princípios de fé, dogmas e rituais sejam o mesmo. Não pode negar seus fundamentos dogmáticos, até reconhecerem que este modelo religioso é completamente diferente do Jesus crucificado.